De professor para professor – reflexões e sugestões para EBD
Vivemos em dias maus, conforme
profetizou o apóstolo Paulo, e uma das características destes dias é o
afastamento do povo de Deus da Palavra de Deus.
Há cinco anos tive a oportunidade de
ouvir pela primeira vez o pastor Ziel Machado[1] e
nunca esqueci sua mensagem, a qual trago sempre comigo e uma de suas falas foi:
Nenhuma geração teve tanto acesso a Palavra de Deus do que a nossa
geração. Hoje temos todo tipo de bíblia; bíblia rosa, jeans, camuflada, da
letra gigante, da letra pequena com lupa; bíblia no celular, em áudio, na
internet; bíblias de estudo das mais diversas: Thompson, Shedd, Pentecostal,
Plenitude, Genebra etc. Porém nunca houve uma geração tão leiga das Escrituras
quanto a nossa geração.
Essa triste realidade piora ao
observarmos que a crença ou teologia de muitos cristãos e igrejas é fruto da
música gospel e não do estudo reflexivo do texto bíblico, ignorando a história
e a tradição da igreja.
É o caso da música ‘Restitui’[2],
a quem atribuo o papel de despertar o discurso por restituição nas campanhas,
cultos, orações, pregações, profecias etc. Em que parte do Antigo Testamento,
encontramos a promessa de restituição a qual o Cristo concederia a seu povo? Ou
onde no Novo Testamento é pregado, prometido, ensinado ou orado que Deus em
Cristo restituiria algo ou alguém aos seus discípulos? O que acontece
aqui é mais bem explicado nas palavras do Pe. Antonio Vieira (por favor, não
ignorem as palavras de um padre ou qualquer um que fale conforme a Palavra de
Deus) que disse “as palavras de Deus separadas da Palavra de Deus tornam-se
palavras do diabo” [3].
Muito do que se tem pregado, cantado,
ensinado e profetizado nas igrejas e ao povo de Deus são palavras do diabo,
apesar de serem pronunciadas como palavras de Deus!
Como saber se as palavras de Deus que
ouvimos são palavras do diabo ou não? De acordo com o capítulo quatro do
evangelho de Mateus, a única maneira é conhecendo a Palavra de Deus. Talvez por
isso Jesus nos alertou: “Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de
Deus”[4]
A EBD E A EDUCAÇÃO
CRISTÃ
A Escola Bíblica Dominical é o espaço
que nós, nossos filhos, nossos conjugues, amigos, familiares, pobres ricos,
homens, mulheres, idosos, adolescentes, jovens, crianças, surdos, mudos, cegos,
paraplégicos e outros têm de aprenderem a Palavra de Deus e assim desenvolverem
uma fé solida, fruto da reflexão bíblica.
Quando falamos em Escola Bíblica
Dominical, estamos falando em educação cristã, a qual se fundamenta nas
Escrituras Sagradas, logo o conhecimento bíblico é indispensável para o
exercício deste ministério.
Seus principais agentes são os pais,
os pastores, professores bíblicos e todo aquele que faz uso da bíblia para
ensinar “todo conselho de Deus”. Todavia cabe ao educador cristão, ou seja, a
todo discípulo de Jesus, aplicar em sua vida o trinômio de Esdras:
Esdras havia dedicado a sua vida a estudar, e a praticar a Lei do
Senhor, e a ensinar todos os seus mandamentos ao povo de Israel.[5]
O PROFESSOR DA EBD
O termo professor vem do latim professor, que
é ‘o que se dedica a’. Parece que o surgimento desta palavra faz parte do
contexto religioso do século XV, fazendo referencia àquele que professa uma
crença ou uma religião.
Quando falamos em professor da EBD
estamos falando em pessoas que na sua maioria não tiveram nenhuma formação
acadêmica ou pedagógica, não obstante não deixam de ensinar as verdades
eternas.
A estes catecúmenos o apóstolo Paulo
diz “se é ensinar que haja dedicação”. Assim, podemos concluir que ensinar é um
dom da graça de Deus, todavia exige-se do agraciado o esforço para aprofundar
seu conhecimento e melhorar sua atuação.
O Reverendo John Stott nos agracia
com o seguinte comentário sobre versículo acima:
Assim, qualquer que seja o dom-ministério que as pessoas receberam, elas
devem aplicá-lo com afinco. De semelhante modo, quem tem o dom de mestre deve
cultivar o seu dom de ensino e desenvolver o seu ministério como tal. Não se
discute que este seja, dentre todos os dons, o mais necessário e o mais urgente
na igreja de hoje no mundo inteiro, em que centenas de milhares de convertidos
são empurrados para dentro das igrejas, mas há pouquíssimos mestres para
nutri-los na fé.[6]
Ser professor da EBD deve ser
compreendido como uma vocação ao ensino bíblico, assim cabe a este servo do
Senhor, buscar se aprofundar mais e mais no livro sagrado.
O docente da EBD assim como qualquer
outro professor não é obrigado a saber todas as respostas; é até honroso e
atrativo ao professor que usa de honestidade e diz “não sei” ou “não tenho
certeza”.
Cabe a este educador desenvolver o
hábito da leitura tanto de livros relacionados aos temas das aulas como de
temas diversos, religiosos ou não. Neste momento vale lembrar a celebre frase
do teólogo Karl Barth: “O cristão deve andar com a bíblia na mão direita e o
jornal na mão esquerda”. Barth não estava igualando o jornal com a bíblia ou
vice-versa, mas falando para os cristãos que não podemos viver alheios aos
acontecimentos da nossa realidade, que precisamos tanto do conhecimento bíblico
quanto do conhecimento dos fatos do cotidiano.
Uma das criticas mais recorrentes
entre alunos desestimulados e que desistiram da EBD é a do professor
despreparado, o qual não se aprofundou no tema da aula, é contador de histórias
e suas aulas são baseadas em três pontos: lê a lição, sai da lição e nunca mais
volta pra lição!
O pastor Esdras Bentho[7] em
seu artigo “Novos Professores para uma Nova Igreja[8]”
afirmou que alguns docentes já deveriam ter pendurado a batuta: “Ainda
continuam lendo integralmente a revista da Escola Dominical; não usam qualquer
tipo de método; são incapazes de comentar com profundidade teológica o tema da
lição; reclamam que o assunto é repetido e além de se colocarem nos holofotes
de seus cargos eclesiásticos” e conclui dizendo que “sim, esse é o perfil do
professor desnecessário, substituível, que não quero para a igreja deste novo
milênio. Tal ensinante é inútil à renovação da igreja”.
A AULA DA EBD
Por estarmos falando de professores
de jovens e adultos precisamos entender que nossas aulas devem ser um espaço
descontraído, em que nossos alunos possam se sentir a vontade para expressarem
suas dúvidas, opiniões e experiências.
Um professor, cuja vida é marcada por
uma dosagem exagerada dos usos e costumes, terá um perfil legalista e uma
atitude julgadora, não proporcionando aos alunos o espaço adequado para suas
contribuições.
Segundo Lucas 14.28-30 toda
construção deve ser precedida de um planejamento. Sem o estabelecimento de um
plano estratégico, não se conclui satisfatoriamente uma obra, podendo o
construtor ser vítima de escárnio ou motejo[9].
Sendo assim o professor não deve encarar sua classe de qualquer maneira, sem
preparação alguma. Devemos lembrar que o pescador prudente antes de jogar as
redes ao mar, verifica as condições da mesma (Mc 1.19), a fim de que os peixes
não escapem ou a rede não se rompa devido a grande quantidade de animais
marinhos (Jo 21.11).
O professor deve evitar dar uma aula
lendo todo o conteúdo da lição, pois os alunos têm suas lições e teoricamente
já as leram em suas casas. O professor precisa entender que a lição existe como
roteiro, guia para preparação das aulas, que conforme o nível de seus alunos
poderá aprofundar o assunto sem sair do tema.
Outro tipo de aula que se deve evitar
é a estilo pregação, aquela aula em que só o professor fala e não há
participação nenhuma da classe. Mesmo que haja dificuldade de participação dos
alunos, cabe ao ensinador criar uma cultura de participação, bem como métodos
para controlar a participação excessiva dos alunos para não perder o controle
da aula e não concluir a lição.
Acredito que a grande preocupação do
professor de EBD não deve ser se ele conseguiu dá a aula perfeita ou como ele
imaginou que deveria ser. Mas se o que ele ensinou mudará a vida de seus alunos
e/ou os despertará a buscarem a Deus em sua Palavra e na oração.
O CONHECIMENTO DO
PROFESSOR
Não é essencial que o professor de
EBD seja formado em teologia, mas que tenha prazer em estudar a Bíblia e isso
através de bons livros, comentários bíblicos, Teologias Sistemáticas e oração.
Cabe ao ensinador cristão conhecer
bem o livro que está estudando e que irá ensinar, logo para isso faz-se
necessário saber o que é hermenêutica e seus princípios para poder interpretar
um texto bíblico.
A melhor forma de adquirir
conhecimento é lendo, por isso deve o professor ou qualquer pessoa que queira
ensinar a Bíblia ter uma biblioteca. Assim como separamos parte do nosso
dinheiro para comprar roupas, alimentos, diversão etc, convém fazermos o mesmo
para aquisição de livros, no mínimo um por mês.
Porém deve-se tomar cuidado, pois há
perspectivas diversas sobre temas que estudaremos, por isso precisamos conhecer
nossa tradição e denominação para não ensinar algo contrario a elas. E tal
conhecimento vem pelo estudo da história do pentecostalismo e da Assembleia de
Deus, bem como da Igreja em geral.
É necessário conhecermos os
principais expoentes e autores da CPAD, visto que ela é o órgão oficial da
nossa denominação e toda conteúdo por ela vendido corresponde a crença
assembleiana.
Isso não significa que o professor
não pode ter uma opinião diferente sobre determinado assunto, mas que ao querer
expor e fundamentar sua opinião deve só fazê-lo antes ou após apresentar o que
nossa denominação defende.
RECURSOS PARA AS
AULAS
É difícil falar de recursos, uma vez
que não conheço a realidade dos participantes deste CAPEB, por isso vou
apresentar minha experiência de como o uso de tecnologias e internet me
auxiliam tanto na preparação das aulas quanto na exposição delas.
Já dizia o antigo provérbio chinês
“uma imagem vale mais que mil palavras” e seguindo o comentário paulino é
melhor falar cinco palavras que os outros entendam do que dez mil que não se
aproveite nada. Por isso para maximizar a exposição bíblica faço uso constante
do data-show, que me permite mostrar texto, imagem e vídeo.
Para preparar minhas apresentações
busco sempre imagens relacionadas ao tema em questão, para evitar ou mostrar o
que as palavras descrevem e para isso a internet tem sido de grande ajuda, além
de proporcionar diversos comentários das lições.
O Facebook tem sido muito útil tanto
para enviar convites das aulas como para oferecer um espaço para que os alunos
possam baixar as apresentações das aulas dadas e compartilharem suas opiniões,
informações, dúvidas e reclamações.
Não apenas o professor deve
desenvolver o hábito de leitura, mas seus alunos também, por isso é
interessante a doação de livros relacionados aos temas estudados. Como
estudamos um tema a cada trimestre acredito que dê para os professores
reservarem algum dinheiro ou conseguirem um patrocínio para comprarem alguns
livros que serão uteis no estudo do trimestre que se inicia!
Dependendo do tema a ser estudado é interessante
levar um convidado que conheça bem aquele tema em questão para que participe da
aula e tenha um espaço para contar sua experiência e responder algumas
perguntas,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A proposta desta palestra é ajudar
aos professores de EBD a melhorarem suas aulas, mas como não sou formado em
pedagogia, propus compartilhar minhas experiências de professor de EBD desde o
começo até hoje.
Posso ter esquecido algum tópico, que
poderei abordar durante a apresentação, entretanto tenho sido convencido que o
segredo de uma EBD bem-sucedida é a qualidade de seus professores.
Ao falar em qualidade refiro-me ao
caráter, ao hábito de leitura e a vocação de ensinar ou como antes disse o
trinômio de Esdras: Esdras lia, vivia e ensinava a Lei do Senhor, que cada
professor deve ter.
O professor da EBD deve entender que
ensinar a palavra de Deus tanto é um dom como uma vocação, um chamado divino,
ao ponto daqueles que desejam serem pastores ou mesmo diáconos só poderão sê-lo
se forem aptos ao ensino!
O professor ao reconhecer sua vocação
deve entender que seu papel na igreja local é de suma importância, por isso seu
comprometimento deve ser com Jesus Cristo e a Palavra de Deus, logo não deve
abrir mão da verdade do evangelho.
A menos que vocês provem para mim pela Escritura e pela razão que eu
estou enganado, eu não posso e não me retratarei. Minha consciência é cativa à
Palavra de Deus. Ir contra a minha consciência não é nem correto nem seguro.
Aqui permaneço eu. Não há nada mais que eu possa fazer. Que Deus me ajude.
Amém. Martinho Lutero.
Notas
[1] Pastor
Metodista Nissei em São Paulo e Coordenador Latino-Americano da ABU*
[2] Tema
do CD do ministério Toque no Altar, atual Trazendo a Arca.
[3] Sermão
da Sexagésima
[4] Mateus
22.29 ARA
[5] Esdras
7.10 [NTLH]
[6] STOTT,
John. A Bíblia Fala Hoje – A Mensagem de Romanos. 1ªed. Editora ABU, 2007,
p.396
[7] Pastor
Esdras Bentho é articulista do site CPAD News e autor de diversos livros.
[8]http://www.cpadnews.com.br/blog/esdrasbentho/?POST_1_59_NOVOS+PROFESSORES+PARA+UMA+NOVA+IGREJA.html
https://zebruno.wordpress.com/2012/10/15/de-professor-para-professor-reflexoes-sugestoes-ebd/